quarta-feira, 13 de maio de 2009

Cérbero # 03

Bom em defesa da edição posso explicar minha linha de raciocínio. Esqueçam que vocês sabem o que é carnaval. Essa palavra agora não significa mais nada. O que inicia o vídeo não é o carnaval. É um espaço com pessoas fantasiadas. Som alto e confuso. Ansiedade num caldeirão. O tempo tem que ser suficiente para tanta euforia, por isso o tempo passa errado. Quando se vê já foi, ficou apenas uma lembrança. Nada se concretiza. Os preparativos são mais intensos que o evento. Então a culpa. A culpa por não ter aproveitado. A culpa por ter aproveitado em excesso. Tantas expectativas diferentes e tantas frustrações.

(Vinicius Nascimento)

Cérbero # 03

Que bom que ficou pronto! maneirissimo...acho o projeto muito legal...mas por ter visto os outros vídeos e principalmente ter participado deste de forma intensa, gostaria de expressar minha opinião de forma clara, como mais uma contribuição a idéia desse vídeo...
acredito que muitas situações inusitadas aconteceram e que foram fantásticas e que deveriam ter sido mais usadas: pessoas que tentavam nos estimular, pessoas que tentavam interagir conosco, pessoas que se assustavam conosco, nós que nos assustavamos com a alegria das pessoas. Conexões em olhares entre nós e o público... Não sei se foram registradas.
O fato de nós estarmos no meio daquele turbilhão de pessoas embevecidas pelo carnaval como um grupo absorto e melancólico causou muita estranhesa ao set e as próprias pessoas que ali se encontravam, acho que isso deveria ser mostrado se há registros disso. Também apesar de não ser a favor de uma forma aristotélica de narração, nesse caso acredito que o fato de estarmos no começo evitando o contagio da alegria e estarmos envolvidos com a ausência de alegria e depois nos entregarmos ao final do dia a alegria contagiante( bem no finalzinho) contribui para uma narração dessa idéia de pessoas apáticas ou melancólicas que sucubiram a uma felicidade quase forçada que é o carnaval. Isso é muito interessante e não vi essa evolução narrativa. Não sei se a idéia era essa, mas pelo menos entrei nessa viagem.E E na minha opinião a mistura de imagens captadas no final com as imagens captadas no começo, ficou meio confuso. Outro detalhe é que acredito terem sido parcos os momentos que foram utilizados como: silêncio( ausência de som esterno) e a música escolida que traz um clima póetico...o audio esterno, na minha opnião ficou excessivo, pois ele significa muito num momento, mas depois ele por excesso de uso não significa mais nada. Talvez depois de ter visto o vídeo, acho que número 1( do Fernandinho olhando pra o céu), o qual é extremamente poético, com lindas imagens, com figuras geométicas captadas pela camera do rosto, do corpo do ator e com a escolha da música criei mais expectativa nesse vídeo dos mortos. Acho que ele está aquém da experiência vivenciada lá, proposta por vocês e suas idéias.
Jogo aqui essa bola para discutir...se for do interesse...afinal não sei se a idéia que eu tinha é a mesma que vcs tiveram...nem sei se há esse espaço pra discurssão...rsrs

(Jean Bodin)

Cérbero # 03

Na primeira vez que vi pensei coisas similares sabe? Nossa vivência foi muito forte ali, de fato e muita coisa interessantíssima ficou de fora.Dai vi mais umas quatro vezes até me manifestar, e a cada vez tentava colocar um olhar diferente.Agora, acabei de ver novamente e me apaixonei pelo trabalho da edição. E de alguma forma me pareceu que nós ali éramos apenas pretexto, personagens da multidão, mergulhados nela. A "narrativa" ganhou amplitude.Acho essa bola que vc levantou extemamente importante para o projeto, porque existe uma lacuna entre a situação vivenciada e o vídeo. Mas não penso que essa lacuna seja ruim, penso que ela também é uma possibilidade.Ou seja, temos a possibilidade de distanciar o vídeo da ação cênica de rua,e tb temos a possibilidade de aproxima-los, fazendo a escolha com apropriação.Acho que o projeto tem muito a ganhar com sua avaliação Bodin.Seria legal se todos escrevessem algo né?

(Carolline Cantidio)

O projeto Cérbero

O projeto Cérbero surgiu no final de 2008 de uma parceria entre alunos do Instituto Brasileiro de Audiovisual - Escola de Cinema Darcy Ribeiro e alunos de teatro da UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Com o objetivo de desenvolver uma pesquisa de linguagem multimídia que abarcasse a criação de ações cênicas urbanas, e o desdobramento delas em vídeos experimentais.

O MITO

Cérbero, na mitologia Grega, é o cão de três cabeças que protege a porta do Hades, o mundo dos mortos. Suas três cabeças simbolizam as três câmeras com que filmamos as ações cênicas urbanas. Elas fazem com que essas ações “escapem” a sua finita duração no espaço-tempo. E após o processo de montagem em que se recria essa ação, elas revivem no mundo virtual “dos mortos”, ou seja, como obra áudio-visual.

O PROCESSO

O projeto possui uma dinâmica dramatúrgica que se divide em três momentos:
Primeiro criamos um argumento aberto ao improviso que define o tema, o local e a proposta da ação. Usamos ação cênica, pois cada novo argumento pode indicar o uso, de diferentes gêneros das artes cênicas e visuais, sem estar preso a nenhum deles.
A partir do argumento, realizamos a ação cênica - que é o resultado de uma dinâmica de improvisação entre os performes-atores e os três câmeras. A ação se desenvolve sem interrupção e gera um segundo resultado dramatúrgico. Os três câmeras fazem parte da ação cênica, são também performers e captam diferentes pontos de vista da ação.
Finalmente temos o processo de edição do vídeo que gera ainda uma terceira dramaturgia.

CONCEPÇÃO

Quanto aos modos de representação e produção de sentido o projeto assume influências da antropofagia, do cinema marginal, das performances, dos hapenings, do teatro de rua e dos recentes flash mob.
O projeto tenta perceber o cotidiano urbano na sua própria dinâmica fragmentada, seus coros de homens e carros, sua multiplicidade de vozes e imagens, seu ritmo acelerado. Utiliza essa dinâmica no seu fazer poético, nos seus procedimentos narrativos. Interfere neste cotidiano e cria na matéria mesma de seu caos.

Por onde Cérbero passa, ele cria uma dobra na realidade, uma ruptura com o comum da comunidade, um BURACO no meio do asfalto, uma passagem para o mundo dos mortos, um campo de signos estranhos e de construções artificiais. E acreditamos que é essa dobra mesmo, esse espaço marcado pela morte que pode gerar uma potência de vida no meio da cidade e no espaço virtual.


(Fernando Codeço)